A Assembleia Legislativa do Paraná (ALEP) viveu nesta terça-feira (3) uma sessão marcada por gritos, acusações e tentativas explícitas de silenciamento político. No centro da polêmica, o deputado Renato Freitas (PT), alvo de novas investidas da bancada bolsonarista. Tudo começou quando o Delegado Tito Barrichello (União Brasil) subiu à tribuna para sugerir a prisão de Freitas. Alegou que, em 2024, o parlamentar esteve ao lado dos professores durante a ocupação do plenário em protesto por reajuste salarial e data-base. Barrichello comparou a mobilização dos servidores ao ataque golpista de 8 de janeiro — uma equivalência rejeitada veementemente por parlamentares de oposição.
Acusações inflamadas e ameaça de CPI contra sindicato
A sessão ganhou contornos ainda mais agressivos com a fala do deputado Ricardo Arruda (PL). Conhecido por seu alinhamento com o bolsonarismo, Arruda anunciou a intenção de abrir uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para investigar a APP-Sindicato. “Essa APP-Sindicato vai ser envergonhada aqui”, ameaçou. O bolsonarista acusou o governo Lula de cortar verbas da educação e afirmou que os servidores presentes eram cúmplices desse “desmonte”. Arruda também fez questão de atacar diretamente o PT e o presidente Lula, reforçando a polarização ideológica em curso na Casa.
Freitas reage: denúncia de censura e acordo entre poderes
Na defensiva, Renato Freitas contra-atacou. Denunciou que estão tentando silenciá-lo com um novo processo na Comissão de Ética, com base em um voto do deputado Márcio Pacheco (PP), que propõe punição de seis meses de “silêncio”. “Querem me calar. Essa tentativa de punição é para suspender minhas prerrogativas parlamentares. Já fui punido no caso Traiano. Agora querem me tirar das comissões e anular minha atuação como deputado”, afirmou.
Freitas ainda criticou duramente um acordo entre o Ministério Público, o Judiciário e a própria ALEP [na gestão anterior] que teria resultado na não persecução penal de figuras poderosas envolvidas em corrupção. “Fui punido por falar a verdade”, disse, em referência ao caso que envolveu uma das famílias mais influentes do estado.
“Data-base é possível”
O deputado Arilson Chiorato (PT), líder da Oposição, afirmou que há dinheiro — cerca de R$ 14 bilhões — para o pagamento de data-base. O oposicionista também criticou Barrichello e Arruda pelos ataques contra Renato Freitas. “Nós o defenderemos”, prometeu, ao criticar mudanças proposta na Comissão de Ética.
O que está em jogo: censura ou decoro?
A proposta que tramita na ALEP visa punir supostos “discursos desrespeitosos” por parte de deputados. Na prática, abre margem para um regime de censura seletiva, com impacto direto sobre parlamentares de oposição e movimentos sociais organizados. Renato Freitas alertou que o novo código de conduta poderá acelerar cassações e institucionalizar a perseguição política. Para ele, o objetivo oculto da proposta é consolidar uma maioria silenciosa, onde vozes dissidentes sejam caladas sob o pretexto de manter a “ordem” legislativa.
Polarização reflete clima nacional
O embate na ALEP não é um caso isolado. Ele espelha o ambiente de radicalização que toma conta da política brasileira desde a ascensão da extrema-direita. O uso da Comissão de Ética como instrumento de retaliação política, aliado à ameaça de CPIs para constranger sindicatos e servidores, integra um modus operandi de guerra cultural travada nos parlamentos. A tentativa de criminalizar movimentos populares e enquadrar parlamentares progressistas em moldes autoritários revela uma escalada preocupante, sobretudo quando setores do Judiciário e do Ministério Público são acusados de conivência ou omissão.
Sobre o bate-boca
Segundo deputados da oposição, o que se viu nesta terça na Assembleia Legislativa do Paraná foi mais do que um bate-boca parlamentar. Trata-se de uma ofensiva articulada, com método, contra figuras e instituições que resistem ao avanço do conservadorismo radical. É necessário estar atento, dizem os parlamentares: a defesa do decoro não pode ser usada como pretexto para instaurar censura seletiva. A democracia exige ruído, pluralidade e o direito inalienável ao dissenso.
(Foto Valdir Amaral)