A professora de Língua Portuguesa Silvaneide Monteiro Andrade, de 53 anos, morreu na manhã desta sexta-feira (30), no Colégio Estadual Cívico Militar Jayme Canet, em Curitiba, após sofrer um infarto durante o expediente escolar. Segundo a APP-Sindicato (que representa os professores da rede estadual), o óbito ocorreu durante uma reunião com a equipe pedagógica que, segundo a entidade, é feita para pressionar professores a utilizarem plataformas digitais compradas pelo governo Ratinho Junior (PSD). Segundo relatos apurados pela direção do sindicato, a docente estava em sala de aula quando foi chamada para uma reunião com a equipe pedagógica e uma “embaixadora” do NRE (Núcleo Regional de Educação), profissional responsável por acompanhar o uso de plataformas digitais contratadas pela Seed (Secretaria de Estado da Educação).
A professora sofreu o infarto durante a reunião. Segundo a diretora da APP-Sindicato, Walkiria Olegário Mazeto, Silvaneide foi atendida por um bombeiro militar aposentado que atua na escola, que efetuou procedimentos de reanimação. No entanto, a professora não resistiu. Quando o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência) chegou ao local, ela já estava em óbito. Mazeto afirma que o teor da reunião ainda está sendo apurado, mas denuncia que encontros desse tipo têm sido recorrentes e marcados por cobranças e constrangimentos. Segundo ela, há uma pressão sistemática para que os professores utilizem plataformas educacionais específicas contratadas pelo governo estadual, como o Redação Paraná e o Leia Paraná. “Essas reuniões acontecem para cobrar os profissionais que não atingem as metas de uso das plataformas, independentemente do que o professor está fazendo em sala de aula”, afirma.
De acordo com a dirigente sindical, professores têm sido obrigados a adaptar seus planos de aula às exigências das plataformas, o que tem causado adoecimento e desmotivação na categoria. “Nós não somos contra o uso da tecnologia, mas contra a lógica de que os aplicativos comandem o ritmo da nossa prática pedagógica. O que está sendo imposto é o uso das ferramentas como fim, não como meio”, explica. Uma professora pedagoga da rede estadual de ensino do Paraná, a doutora Aline Chalus Vernick Carissimi, chegou a publicar nas redes sociais um desabafo sobre a morte de Silvaneide e essa situação relatada pela presidente da entidade (leia no fim do texto). A APP-Sindicato evitou responsabilizar diretamente a Seed (Secretaria de Estado da Educação) pela morte da professora, mas cobrou apuração rigorosa dos fatos. A entidade requisitou acesso à ata da reunião para verificar se houve situações que possam ter contribuído para o mal súbito. “O que causou indignação na rede é que ela morreu no contexto em que todos os professores se veem: reuniões de cobrança, pressão por metas, desconsideração do trabalho pedagógico real”, afirmou Mazeto.
Em alusão ao episódio, professoras e professores aceitaram aderir a um movimento contrário ao uso de aplicativos durante a semana escolar que se inicia nesta segunda-feira (2). O corpo da professora foi velado neste sábado (31) com cerimônia religiosa às 14h30, conforme informou a APP-Sindicato. A entidade prestou solidariedade à família e acompanhou os atos fúnebres.
Outro lado
A reportagem questionou a Seed sobre quais as circunstâncias da morte de Silvaneide, sobre as condições de trabalho e pressão sofridaspelos professores, de acordo com a APP-Sindicato, e o que tem sido feito para garantir a implementação das atualizações da NR-1 (Norma Regulamentadora 1), sobre prevenção a condições psicossociais que podem levar o trabalhador ao adoecimento, no ambiente escolar da rede estadual. Por meio de nota oficial, a Seed lamentou o falecimento da professora e informou que a equipe escolar acionou imediatamente o Samu (Serviço de Atendimento Móvel de Urgência), que prestou atendimento no local. No entanto, a profissional não resistiu. A Seed destacou que uma equipe de apoio psicológico foi enviada à escola para prestar suporte a estudantes, professores e servidores. “A comunidade escolar está de luto”, afirma o comunicado. Ainda segundo a pasta, a Polícia Científica do Paraná irá investigar as circunstâncias da morte. “Qualquer informação sobre as causas da morte antes da conclusão do laudo é temerária”, reforça a nota.
Leia a manifestação da pedagoga da rede estadual de ensino
Plataformas da morte!
No dia 30/05/2025 uma tragédia colocou em xeque o preço pago pelos servidores da educação pela “melhor educação do Brasil”.
A morte da professora Silvaneide dentro do Colégio Estadual Cívico Militar Jayme Canet, em Curitiba, vítima de um infarto, acende uma luz de emergência sobre as condições de trabalho, clima escolar e saúde dos professores.
De acordo com relatos de colegas da instituição escolar, a professora, que ministrava aulas de língua portuguesa, estava sendo cobrada pelos índices de acesso às plataformas online da SEED quando teve o mal súbito e acabou falecendo no local.
A vigilância por parte da SEED quanto ao uso das plataformas educacionais digitais e o excesso da burocracia vem sendo cada vez mais intensificadas no chão das escolas públicas da rede estadual de ensino.
A aprendizagem dos estudantes tem se mostrado secundarizada pelas políticas educacionais do governo, na contrapartida dos números e estatísticas das unidades educacionais.
Para fazer subir os números do ranking educacional do Paraná mediante ao Brasil, a SEED tem lançado mão de práticas de gerenciamento de pessoal e resultados que ignoram o bem estar dos servidores, geram assédio e cobranças, por meio de tutores escolares, embaixadores de plataformas, chefes de NREs, que cuidam e acompanham minuciosamente o desempenho numérico de cada escola e exigem das escolas melhores resultados a qualquer preço.
Talvez a professora Silvaneide tenha sentido o impacto dessa pressão de uma forma tão avassaladora que ceifou sua vida.
O trabalho do professor do Paraná não tem valor, no sentido mais amplo, do termo valorização, ele tem preço!
Paga-se abono IDEB, gratificação GTE, que não permitem ao educador o adoecimento.
Nas últimas semanas a SEED tem exigido cada vez mais planilhamentos e resultados das equipes escolares, seja com as plataformas: LEIA, Redação Paraná, Matemática Paraná, Inglês Paraná, Quizziz, Agrinho, Recomposição da Aprendizagem, Simulados preparatórios para o SAEB a cada 15 dias, simulado Acerta Brasil, simulado online, Semana tech, Desafio Paraná online, etc… Tudo configurado no alto preço da mercantilização e privatização da educação para empresas e conglomerados educacionais que levam o dinheiro público dos paranaenses à custo da nossa saúde!
Além disso, as equipes gestoras, diretores e pedagogas, são semanalmente cobrados pelas tutorias da SEED e chefias dos NREs sobre os índices educacionais que envolvem o uso das plataformas, o famoso Power Bi, diante de inúmeros critérios: frequência estudantil, uso das plataformas, relatórios de estudantes sem frequência (aqueles que possuem notas abaixo de 40 pontos), relatórios de estudantes para a rede de proteção, neste ponto são cobrados para que os estudantes obtenham no mínimo 85% de frequência, passando por cima do que consta na Lei de Diretrizes e Bases da Educação (LDB) que delimita as faltas dos estudantes em 25% no período.
A política da SEED é diferenciada, a meta é de 85% do frequência e não importa o que diz a lei máxima da educação, importam os números!
Nosso trabalho tem valor! Somos nós que construímos o futuro do Paraná.
A aprendizagem estudantil tem valor!
As vidas dos nossos professores e funcionários tem valor!
O governo do Paraná nos rouba pouco a pouco nossos direitos, duramente conquistados com o suor do nosso trabalho.
Rouba a data base, a hora atividade, a formação continuada digna, nossa carreira, as condições de trabalho, mas não pode nos roubar a vida!
Nossa trabalho tem valor e nossa vida não tem preço!
Semana de luto e luta: sem plataformas!
Dra. Aline Chalus Vernick Carissimi
Professora Pedagoga da rede estadual do Paraná
(Foto Redes Sociais)
Fonte: AN Notícias com Folha Londrina